Resenha: On Writing Well
On Writing Well, por William Zinsser.
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O autor se propõe a ensinar como escrever não-ficão. Dá dicas e conta as particularidades de cada sub-gênero de escrita não-ficcional.
Intro #
Venho namorando a idéia de escrever não-ficção. Pequisei sobre esse tema. “On Writing Well” aparecia em quase todas as ementas e listas de leitura recomendadas. Me pareceu um livro bastante influente. Depois de lê-lo, consigo notar sua influência na literatura de não-ficção, inclusive online. Linguagem simples, calorosa com textos colocando pessoas no centro das histórias são alguns dos pontos centrais defendidos pelo autor neste livro.
William Zinsser (1922 - 2015) foi um escritor, editor e professor universitário. A primeira edição deste livro foi publicada em 1976, e desde então é leitura obrigatória em faculdades de jornalismo e de literatura por todo o mundo.
O autor, em suas palavras, se propõe a ensinar…
" the craft of writing warmly and clearly."
Ou em português: “a arte/ofício de como escrever de maneira clara e calorosa.”
A partir de agora omitirei os trechos originais e só mostrarei as traduções, se quiser ler os originais leia o livro. Tem na Amazon (link de afiliado).
A edição que eu li, lançada em 2001, foi expandida trazendo reflexões sobre - na época - novas tecnologias e gêneros literários que surgiam com a popularização da internet.
O Livro é dividido em 4 Partes:
- Principles (princípios)
- aspectos do bom texto que o bom escritor deve ter em mente enquanto escreve
- Methods (métodos)
- como construir textos interessantes
- Forms
- Sub-gêneros da literatura de não-ficção
- Attitudes
- Direcionamento a escritores. Como lidar com os problemas comuns da profissão.
Parte I - Princípios #
Nesta parte o autor fala dos princípios que guiam o escritor na hora de escrever um bom texto de não-ficção. São eles:
- Transação: no que consiste a escrita
- Simplicidade: Escrever de maneira simples, próximo à forma como se fala
- Clutter (entulho/lixo): Eliminar as partes desnecessárias para dar clareza e leveza ao texto
- Estilo: O Escritor é o estilo. Não se preocupe com estilo pois ele emerge naturalmente. Preocupe-se em escrever bem.
- Público: Escreva para si. Faça um texto que te deixe satisfeito e ele encontrará público.
- Palavras: Escolher palavras primeiro pela sua exatidão, depois pela sua cadência na frase ou sonoridade. E morte aos clichês!
- Usage: Há o uso comum da língua (usage) e a gíria (jargon). Evite gírias a todo custo e seja seletivo com o que você pega emprestado do uso comum da língua.
Parte II: Métodos #
Nesta parte o autor ensina métodos para construção de textos. Sobre o que escrevemos quando escrevemos literatura de não-ficção por vezes não tem uma narrativa clara. É preciso realizar um recorte dos fatos, omitir alguns acontecimentos e pessoas a fim de evidenciar o que realmente importa na história. O autor comenta que é sempre bom ter mais material do que você usará no seu texto e comenta o quão importante é encontrar o “filé” da história e explorá-lo em profundidade.
Durante a pesquisa para um texto de não-ficção é comum produzirmos uma pilha de anotações, entrevistas, descrições mais ou menos conectadas. O processo de dar sentido à esse material acumulado pode ser desencorajador, por isso o autor criou os capítulos desta parte do livro para auxiliar neste trabalho de pôr ordem na pesquisa.
- Coesão (Unity): É preciso manter a coesão do texto. Detalhes como o tempo verbal, narrador em primeira ou terceira pessoa, humor, quão formal é o texto, qual a minha atitude com relação ao tema (ceticismo, surpresa, obcessão, desprezo), entre outros devem ser constantes durante o texto. É possível realizar “violações” dessa coesão para causar algum efeito no leitor, mas como regra o texto deve manter-se consistente do começo ao fim.
O autor sugere ao escritor encontrar o ponto que mais chama a atenção na história e focar nele. Quaisquer detalhes devem servir para ilustrar e explicar melhor este ponto, uma parte pequenininha da história maior.
"Portanto pense pequeno. Decida qual canto do tema você vai morder, contente-se em explorá-lo bem e então pare [de escrever]."
" Toda peça de não-ficção bem-sucedida deixa o leitor com um único pensamento provocativo novo. Não são dois, não são cinco - apenas um."
- O Lead e o Final: Como o texto começa é importante pois dá o tom da história, fala do tema a ser explorado e deve capturar a curiosidade e atenção do leitor. O lead é esse começo do texto e deve ser cativante e explicar o suficiente para que o leitor saiba sobre o que irá ler caso continue na página.
O texto deve desenvolver o tema, concluir o tema de maneira satisfatória e parar antes de se tornar maçante. Depois de capturar a atenção do leitor, de levá-lo numa jornada de apresentação do tema, de mostrar a jóia do texto, pare de escrever imediatamente. Termine o texto logo após o ponto alto da sua história.
" Procure material em todos os lugares, não apenas lendo as fontes óbvias e entrevistando as pessoas óbvias. Procure em placas, em propagandas, no que está escrito na beira da estrada... "
O autor dá dicas do que evitar no Lead:
- Arqueologistas do futuro
- Visitantes de outro planeta
- Viajantes do tempo
- One day not long ago
- button-nosed boys
- O que X, Y e Z tem em comum?
"Você deveria pensar na última sentença do seu texto tanto quanto pensa na primeira."
"O final perfeito deveria surpreender seus leitores e ao mesmo tempo parecer irretocável."
O autor dá algumas dicas de como encerrar um texto.
- Bits & Pieces: Coletânia de pequenos pensamentos e insights sobre aspectos diversos da escrita como pontuação, uso de adverbios, verbos passivos, credibilidade, hipérbole…
Parte III: Formas #
Como escrever sobre temas diversos, ou sub-gêneros da escrita de não-ficção.
- Não-ficção como literatura: a maior parte do que se lê é não ficção. Estamos rodeados de não-ficção, por isso faz sentido aprender a escrevê-la bem.
Nos capítulos a seguir o autor ensina a dinâmica e dá dicas sobre os sub-gêneros listados abaixo:
- Escrever sobre pessoas: A entrevista
- Escrever sobre lugares: O artigo de viagem
- Escrever sobre você: A autobiografia (memoir)
- Ciência e Tecnologia
- Escrita de Negócios: Escrever no seu emprego
- Esportes
- Escrever sobre as artes
Essa parte termina com um capítulo dedicado ao Humor na escrita. 19. Humor
Parte IV: Atitudes #
O autor fala como o escritor deve se portar diante dos desafios internos e externos que a atividade de escrita de não-ficção lança contra os escritores.
- Som da sua voz: Como se dirigir ao público.
"Clichês são o inimigo do bom gosto"
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Satisfação, Medo e Confiança: Como lidar com esses sentimentos.
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A tirania do Produto Final: Prazos são prazos e perdê-los nunca é bom. MAAAAS, não se preocupe com o produto final, apenas escreva bem e confie no trabalho do seu editor.
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Decisões do escritor: como organizar um artigo.
"Este foi um livro sobre decisões - incontáveis sucessivas decisões que compõe todo ato de escrita."
- Escreva tão bem quanto conseguir: Lidando com editores. Desde editores ausentes até editores que mudam seu texto sem te consultar. Como sobreviver a essas dinâmicas sem ir preso.
Conclusão #
Um livro bem escrito, bastante didático, com bastante exemplos e uma linguagem que não cansa. O autor consegue ensinar sobre os diversos sub-gêneros da literatura de não-ficção com bastante facilidade. As dicas e os alertas que o autor faz durante todo o livro são muitíssimo bem-vindos, e certamente relerei capítulos da obra de tempos em tempos.
Se tiver interesse em escrever melhor, seja e-mails, entrevistas, biografias ou artigos, recomendo fortemente a leitura de On Writing Well, de William Zinsser.
Links úteis (afiliados): #
On Writing Well (Livro Físico)